O QUE É A MOXABUSTÃO?
- Alexandre Henriques
- 1 de jul. de 2024
- 4 min de leitura

A Moxabustão é uma técnica usada na MTC que gira em volta da combustão de "Moxas". A sua história leva-nos até a dinastia Han (202 A.C - 220 D.C). Data de um documento encontrado num túmulo em Mǎ wáng duī 马王堆 (Chángshā 长沙, China) que já mencionava a utilização desta técnica. Isto ainda antes da criação do Clássico do Imperador Amarelo (Huáng dì Nèi jīng 黄帝内经), um dos livros base de todas as vertentes da MTC.
Segundo Bernard Auteroche, o termo Moxa surge no ocidente em 1677 e tem como origem tanto o termo português mechia (mecha) como do termo japonês mogusa (もぐさ). Este ultimo é o termo comum para várias plantas aromática da família da Artemisia.
A aplicação da Moxabustão segue os mesmos princípios básicos da Acupuntura no que toca à sua aplicação clínica. Esta deverá ser feita com o conhecimento dos pontos de acupuntura bem como da teoria básica da MTC.
A Artemisia

A Artemisia (Folium Artemisiae Argyi) é de longe a planta mais usada na moxabustão. Na China, é conhecida por Ài Yè (艾叶) e tem propriedades medicinais importantes que são empregadas em decocções e preparados de fitoterapia. Em Portugal ela também é conhecida por erva-de-são-joão ou erva-de-fogo, e está presente em toda a Europa, inclusive no norte e centro de Portugal. No entanto, para a sua utilização na prática da moxabustão, esta planta deve ser seca, envelhecida e processada de forma a criar aquilo que conhecemos por algodão de moxa. Este algodão é depois usado de várias formas dependendo da técnica.
Existem vários gradientes de qualidade quando se fala em algodão de moxa, sendo que o tipo mais comum (e também mais barato) é o algodão de moxa verde. Este tipo de algodão não tem uma qualidade muito alta e é sobretudo usado em bastões (explicação mais a frente) ou técnicas que envolvam uma quantidade maior deste algodão.
Em algumas técnicas de moxabustão, sobretudo japonesas, exigem algodão de moxa dourado. Este algodão tem uma qualidade superior pelo tempo de envelhecimento e refinação, o que o faz ganhar uma cor mais amarela e pálida. Esta alta qualidade é requisitada por algumas técnicas devido à necessidade de formar cones muito pequenos para o seu uso em zonas mais específicas, para além de conter propriedades que diferem do verde.

Técnicas de Moxabustão
Existem variadas formas de se aplicar a moxabustão, umas mais conhecidas que outras. Entre as mais conhecidas, podemos dividi-las entre moxabustão através de bastão, através de cones e agulha quente.
Moxabustão através de bastão

Este método é o mais usado pela maioria dos profissionais bem como o mais conhecido pela comunidade. Isto envolve a combustão de algodão de moxa sob a forma de "charutos" (assim como se faria a um cigarro) e a aproximação até uma distância de cerca de 3 cm da brasa formada na ponta do charuto em direção à zona que se quer tratar. Isto faz com que o paciente sinta o calor sem provocar dor ou queimaduras. Este método é usado sobretudo em áreas grandes do corpo, como o abdómen ou a zona lombar.
![]() | | Sobre as lâmpadas TDP Nos tempos que correm, existem profissionais que acabam por substituir o bastão de moxa pela utilização de uma lâmpada TDP (luz infravermelha). Embora o calor emitido por estas lâmpadas contenha utilidade terapêutica, o seu uso como substituto da moxabustão é discutível, pois reduzir a prática da moxabustão a uma simples aplicação de calor é alienar a teoria da MTC. Isto leva ao descarte do potencial da técnica e pode mesmo levar não só a resultados clínicos insuficientes, mas também a sintomas secundários não desejados. |
Moxabustão através de cones
Este método consiste na combustão de cones de algodão de moxa (cones de moxa) de forma direta ou indireta na pele do paciente. Depois de colocado no ponto a tratar, o cone é aceso através de um incenso de forma a queimar de cima para baixo. O calor produzido pelo avanço da brasa através do cone é o ponto essencial neste método. Tal como na Acupuntura, existem imensas variantes desta técnica que definem os pontos a ser usados, o tamanho de cada cone e quantidade de cones a ser aplicado. Quando falamos na utilização de cones de forma indireta, isto refere-se à utilização de um meio intermediário entre o cone de moxa e a pele. Para este fim utiliza-se outros ingredientes que vão contribuir cada um da sua forma para o efeito terapêutico global. São exemplos o Gengibre, alho ou sal.

| E isso não queima? A utilização dos cones de moxa é feita sempre com a segurança do paciente em mente. Desta forma, o cone, independentemente do tamanho, é sempre retirado antes da brasa chegar à pele de forma a não danificar os tecidos cutâneos. Tendo isto dito, existem textos que caracterizam um tipo de moxa que de facto cria alterações na pele, tais como a "moxa com cicatriz" ou a "moxa com bolha". Estas técnicas, por razões óbvias, servem um propósito terapêutico de intensidade muito alta e a sua utilização é rara (inexistente para a maioria dos profissionais). A aplicação destas variantes carece sempre do consentimento informado do paciente. | ![]() |
Agulha Quente
Este método é caracterizado pela colocação de uma pequena porção de moxa na parte superior de uma ou mais agulhas já inseridas. Esta pequena porção é então acesa de forma a que o calor seja transmitido não só para o ponto mas também a zona circundante.
A moxa colocada na agulha está desenhada para ser compacta e evitar ao máximo a queda de brasas e cinzas sob a pele. Ainda assim, para garantir a segurança e conforto do paciente, é sempre colocado algum tipo de proteção de forma a que mesmo que surjam brasas ou cinzas, estas nunca cheguem à pele e causem queimaduras. Para além disto, todo o processo é atentamente vigiado pelo profissional.
Esta é uma forma de juntar duas técnicas diferentes num só tratamento e é bastante conhecida dentro da comunidade.
Resumindo, tal como a Acupuntura, a Moxabustão é uma técnica com muitas variantes dentro dela própria e pode ter variadas funções terapêuticas consoante o que for pretendido pelo terapeuta. Espero ter elucidado o mais possível e, como sempre, em caso de dúvida basta entrarem em contacto pelas redes sociais ou através da secção de comentários.
PS: Sobre o fumo Tendo em conta que tudo isto envolve fogo, é natural que surjam questões em relação ao fumo. Têm sido feitos estudos académicos acerca deste assunto, e uma meta-análise feita em 2011 (Zhou, C., Feng, X., Wang, J. et al.) que inclui mais de 30 estudos científicos, conclui que o fumo produzido por vários tipos de moxa é efetivamente seguro para o corpo humano e contém em si propriedades terapêuticas consideráveis. Ainda assim refere que uma exposição prolongada e de concentração muito elevada pode causar distúrbios a nível respiratório. Existem ainda registos de pacientes com reações alérgica ao fumo provocadas pela moxabustão. Isto é imediatamente detetado pela falta de tolerância que estes pacientes demonstram em relação à presença deste fumo. Em casos em que isto aconteça, e o uso da moxabustão seja indispensável, existem soluções de moxabustão "sem fumo" (feita a partir de carvão) que reduzem significativamente a sua emissão, tornando assim o tratamento mais tolerável para o paciente. |
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